Terapia gênica com CRISPR transforma a qualidade de vida de pacientes
- intergendivulgacao
- 15 de set
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A terapia gênica não apenas trata doenças genéticas graves, mas também pode transformar o dia a dia das pessoas. Dois estudos publicados na revista Blood Advances demonstraram que o exa-cel, uma terapia baseada em CRISPR-Cas9, já aprovada para anemia falciforme grave e beta-talassemia dependente de transfusão, trouxe melhorias significativas e duradouras na qualidade de vida dos pacientes.
O que são essas doenças?
Anemia falciforme (Sickle Cell Disease, SCD): É causada por mutações na hemoglobina β, que fazem com que os glóbulos vermelhos adquiram formato de foice (“sickle”) sob estresse. Isso gera obstrução de vasos sanguíneos, hemólise crônica e crises dolorosas chamadas de crises vaso-oclusivas, além de lesões de órgãos e internações frequentes.
Beta-talassemia dependente de transfusão (TDT): Resulta de mutações que reduzem ou impedem a produção de hemoglobina β, causando anemia grave. Esses pacientes necessitam de transfusões de sangue regulares, o que gera complicações como sobrecarga de ferro, além de impacto físico, psicológico e social.
Ambas as condições comprometem fortemente a expectativa e a qualidade de vida.
O que é exa-cel e como funciona?
O exagamglogene autotemcel (exa-cel) é uma terapia gênica desenvolvida com edição genética via CRISPR-Cas9.
As células-tronco hematopoiéticas (CD34+) do próprio paciente são coletadas e editadas ex vivo para inibir a região reguladora do gene BCL11A.
Isso reativa a produção de hemoglobina fetal (HbF), que substitui a hemoglobina defeituosa, melhorando a oxigenação do sangue e reduzindo sintomas.
Após condicionamento mieloablativo (com busulfano), as células editadas são reinfundidas no paciente.
Os estudos clínicos: CLIMB-SCD-121 e CLIMB-THAL-111
Dois ensaios clínicos multicêntricos avaliaram os efeitos do exa-cel em adolescentes e adultos:
CLIMB-SCD-121: em pacientes com anemia falciforme grave.
CLIMB-THAL-111: em pacientes com beta-talassemia dependente de transfusão.
Diferencial desses estudos: além de medir parâmetros laboratoriais (como níveis de hemoglobina, HbF e independência de transfusão), eles se concentraram em desfechos relatados pelos pacientes (patient-reported outcomes – PROs), para avaliar o impacto real na rotina.
Ferramentas utilizadas para medir qualidade de vida:
EQ-5D-5L: avalia mobilidade, autocuidado, atividades usuais, dor/desconforto e ansiedade/depressão.
ASCQ-Me: específico para anemia falciforme, foca em dor, sono e impacto social/emocional.
FACT-G e subescala BMTS: qualidade de vida geral e relacionada a transplante/células-tronco.
PedsQL: avalia função escolar, social, emocional e física em adolescentes.
Essas medidas foram comparadas com valores de referência da população geral e com limites de mudança mínima clinicamente relevante (MCID), para confirmar se os ganhos relatados eram realmente significativos.
Principais resultados
✨ Melhorias já visíveis em 6 meses após o tratamento.
✨ Ganhos sustentados ao longo dos anos (até 48 meses de acompanhamento).
✨Resultados laboratoriais consistentes: elevação da hemoglobina total e da HbF, eliminação das transfusões em TDT e redução das crises vaso-oclusivas em SCD.
📊 Exemplos de melhorias relatadas:
Adultos com anemia falciforme mostraram aumento nos escores de impacto social (+16,5), impacto emocional (+8,5) e qualidade do sono (+5,7).
Adolescentes com SCD tiveram grandes ganhos em função escolar (+45 pontos), social (+18,3) e emocional (+16,7).
Pacientes com beta-talassemia também relataram melhora significativa, mesmo quando já tinham qualidade de vida próxima à média populacional antes do tratamento.
No geral, os pacientes passaram a relatar menos dor, menos internações, maior bem-estar psicológico e emocional, mais tempo com a família, além de retorno à escola e ao trabalho.
Importância e próximos passos
Esses resultados reforçam que a terapia gênica baseada em CRISPR não representa apenas um avanço biomédico, mas também uma ferramenta poderosa para restaurar dignidade, autonomia e inclusão social.
Apesar dos resultados promissores, é importante destacar que o tratamento envolve riscos (como os efeitos do condicionamento com busulfano) e exige acompanhamento de longo prazo.
Mesmo assim, a mensagem dos estudos é clara: a terapia gênica com exa-cel pode mudar trajetórias de vida em doenças antes limitadas a cuidados paliativos e transfusionais.
🔗 Leia a notícia completa no site da American Society of Hematology: Gene Therapy Leads to Improved Quality of Life

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