Primeiro transplante humano de ilhotas pancreáticas geneticamente editadas sem imunossupressão
- intergendivulgacao
- 15 de ago.
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Um estudo publicado em 4 de agosto de 2025 no New England Journal of Medicine descreveu o primeiro caso humano de transplante de células de ilhotas pancreáticas geneticamente editadas para evitar rejeição — sem o uso de medicamentos imunossupressores.
O avanço representa um marco tanto para a terapia celular quanto para a terapia gênica aplicada ao tratamento do diabetes tipo 1.
Contexto: o desafio da rejeição
Transplantes de ilhotas pancreáticas já são uma estratégia estudada para restaurar a produção de insulina em pessoas com diabetes tipo 1, doença autoimune que destrói as células beta do pâncreas. O problema é que o sistema imunológico reconhece as células transplantadas como “estranhas” e as destrói , obrigando o uso de imunossupressores por toda a vida, com riscos de infecção, câncer e outros efeitos adversos.
A inovação: células “hipoimunes”
A equipe de pesquisadores da Suécia e dos Estados Unidos desenvolveu um produto celular chamado UP421, composto por células de ilhotas humanas geneticamente editadas para evitar ataques imunológicos.
A estratégia combinou:
Edição gênica CRISPR-Cas12b para inativar genes que codificam moléculas HLA de classe I e II (B2M e CIITA), principais responsáveis pelo reconhecimento das células como “estranhas”.
Inserção do gene CD47 por vetor lentiviral — proteína apelidada de “don’t eat me signal”, que inibe a ação de células de defesa como macrófagos e células NK.
O caso clínico
O paciente , um homem de 42 anos com 37 anos de diabetes tipo 1, sem produção natural de insulina e hemoglobina glicada de 10,9% — recebeu 79,6 milhões de células UP421 no músculo do antebraço. O procedimento foi feito sem qualquer imunossupressão e com acompanhamento intensivo durante 12 semanas.
Resultados
Nenhum sinal de rejeição contra as células editadas.
Produção de insulina detectada (aumento de C-peptídeo em testes de refeição mista).
Estabilidade do enxerto confirmada por exames de imagem (PET-MRI).
Redução de 42% na hemoglobina glicada.
Quatro eventos adversos leves, sem relação direta com o transplante.
Vale destacar que a dose utilizada foi apenas 7% da necessária para alcançar independência total de insulina — pois se tratava de um estudo de segurança inicial (first-in-human).
Impacto para a terapia gênica e medicina regenerativa
Este estudo é um exemplo claro de terapia gênica aplicada:
A edição genética das células do doador permitiu criar um fenótipo hipoimune, capaz de escapar tanto da rejeição alogênica quanto, potencialmente, da destruição autoimune.
A mesma abordagem pode ser estendida para outros tipos de transplantes (órgãos, tecidos, células-tronco) sem necessidade de imunossupressão.
Próximos passos
Os pesquisadores planejam:
Testar doses maiores para tentar alcançar independência de insulina.
Reproduzir o estudo em mais pacientes.
Avaliar a durabilidade do efeito e a segurança no longo prazo.
Se bem-sucedida, essa tecnologia pode revolucionar o tratamento do diabetes tipo 1 e abrir caminho para transplantes celulares e de órgãos sem rejeição.
📄 Referência
Confira o artigo completo: Hansson M et al. Transplantation of Gene-Edited Hypoimmune Islet Cells without Immunosuppression in a Patient with Type 1 Diabetes. N Engl J Med. 2025; DOI:10.1056/NEJMoa2506000.

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