Novo vetor AAV com “GPS” tumoral mostra potencial para tratar a neurofibromatose tipo 1
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- há 5 dias
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Pesquisadores desenvolveram um novo vetor de vírus adeno-associado, chamado AAV-NF (clone K55), capaz de reconhecer e atingir com maior precisão os tumores associados à neurofibromatose tipo 1 (NF1). Esse avanço pode abrir caminho para terapias gênicas mais seguras, seletivas e eficazes contra a doença.
O que é a neurofibromatose tipo 1?
A neurofibromatose tipo 1 (NF1) é uma doença genética causada por mutações no gene NF1, responsável por produzir a proteína neurofibromina, que atua como reguladora do crescimento celular. Quando esse gene não funciona corretamente, as células podem crescer de forma desordenada, dando origem a diferentes tipos de tumores e alterações no organismo.
A NF1 é relativamente comum, afetando cerca de 1 em cada 3.000 pessoas, e pode ser herdada de um dos pais ou surgir espontaneamente por uma nova mutação (casos “de novo”).
Suas manifestações variam muito entre os indivíduos, mas alguns sinais são característicos. Desde a infância surgem as manchas café-com-leite, áreas de pele marrom clara, e sardas em regiões como axilas e virilha, que são achados clínicos importantes para o diagnóstico. Com o tempo, muitos pacientes desenvolvem neurofibromas cutâneos, tumores benignos na pele que aumentam em número e tamanho ao longo da vida.
Algumas pessoas também apresentam neurofibromas plexiformes, tumores mais profundos que envolvem nervos e tecidos, podendo causar dor, deformidades ou, em casos raros, se transformar em tumores malignos. Outro achado importante, especialmente em crianças, é o glioma do nervo óptico, que pode afetar a visão. Pacientes com NF1 também têm maior risco de desenvolver tumores malignos da bainha dos nervos periféricos (MPNST), uma das complicações mais graves.
Além dos tumores, a NF1 pode causar dificuldades de aprendizagem, déficit de atenção, alterações cognitivas, ansiedade e traços do espectro autista. Também podem ocorrer problemas ósseos, hipertensão e impactos estéticos e psicológicos ao longo da vida.
Tratamentos atuais
Não existe cura para NF1, mas algumas estratégias podem aliviar sintomas ou reduzir tumores:
Cirurgias para tumores dolorosos ou que comprimem estruturas.
Selumetinibe (inibidor de MEK) aprovado para reduzir neurofibromas plexiformes em crianças.
Acompanhamento multidisciplinar (dermatologia, neurologia, genética, psicologia).
Terapias gênicas e vetores virais estão em desenvolvimento e representam uma nova fronteira terapêutica.
Como funciona o novo vetor AAV-NF (clone K55)?
Um dos desafios das terapias gênicas com vetores virais é que, após serem administrados, eles circulam pelo corpo e acabam se acumulando principalmente no fígado, reduzindo sua eficácia no tecido-alvo e aumentando o risco de efeitos adversos.
Para resolver isso, os pesquisadores utilizaram uma técnica chamada evolução dirigida de capsídeos virais. Nesse processo:
Milhares de variantes de AAV foram criadas com pequenas modificações em sua cápsula (a estrutura externa do vírus).
Essas variantes foram expostas a células tumorais derivadas de NF1 em modelos animais.
As partículas virais que melhor se ligavam e penetravam no tumor eram selecionadas e replicadas.
Após diversas rodadas de seleção, a variante AAV-NF (clone K55) foi escolhida , por apresentar alto tropismo tumoral e baixa captação pelo fígado.
📌 Ou seja: o vírus foi “treinado” para encontrar tumores de NF1 com maior precisão.
O que torna esse vetor especial?
O AAV-NF funciona como um GPS molecular, pois:
Reconhece proteínas e receptores específicos presentes em células de tumores de NF1;
Entra nessas células com mais eficiência;
Entrega o material genético terapêutico diretamente no tumor, reduzindo sua distribuição em órgãos saudáveis como fígado, baço e rins.
Nos modelos animais testados, os pesquisadores observaram:
✅ Maior acúmulo do vetor em neurofibromas, gliomas e tumores da bainha neural;
✅ Redução de até 90% da captura pelo fígado em comparação a vetores AAV convencionais;
✅ Potencial para levar genes terapêuticos, CRISPR ou RNA moduladores de forma mais segura.
Por que isso é tão importante?
Porque esse estudo representa um passo rumo a terapias gênicas personalizadas para tumores da NF1, com:
Mais precisão — o vetor vai direto ao tumor;
Mais segurança — menos efeitos colaterais sistêmicos;
Mais eficácia — melhor entrega do gene terapêutico onde ele é necessário.
Embora ainda esteja em fase pré-clínica, o AAV-NF abre portas para o tratamento não só da NF1, mas de outras doenças tumorais com vetores direcionáveis.
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