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Terapia gênica mostra resultados promissores para a Doença de Pompe infantil

Publicado em junho de 2025 no New England Journal of Medicine, um estudo inovador apresenta dados encorajadores sobre o uso de terapia gênica com vetor AAV9 para o tratamento da forma infantil da Doença de Pompe, uma condição genética rara e grave. Este avanço representa uma nova esperança para pacientes que até então dependiam exclusivamente da Terapia de Reposição Enzimática (ERT), com diversas limitações clínicas.


O que é a Doença de Pompe?


A Doença de Pompe é uma doença genética monogênica causada por mutações no gene GAA, responsável pela produção da enzima alfa-glicosidase ácida (GAA). Essa enzima atua nos lisossomos, organelas celulares responsáveis pela degradação de materiais como o glicogênio. Sem a GAA funcional, o glicogênio se acumula nas células, especialmente em tecidos musculares e cardíacos, levando à disfunção progressiva.


Por isso, a Doença de Pompe é classificada como uma doença lisossômica de armazenamento, além de ser monogênica, ou seja, causada por mutações em um único gene.


A doença pode se manifestar em diferentes idades, com variabilidade clínica significativa. Existem duas formas principais:


  • Forma infantil (início precoce, geralmente antes dos 6 meses de vida): é a mais grave, com fraqueza muscular acentuada, cardiomegalia e risco elevado de mortalidade no primeiro ano.

  • Forma de início tardio (em crianças, adolescentes ou adultos): costuma ter progressão mais lenta, com predomínio de fraqueza muscular e comprometimento respiratório, mas sem envolvimento cardíaco típico da forma infantil.


⚠️ O estudo em destaque é voltado especificamente para a forma infantil da Doença de Pompe, que demanda intervenções precoces e mais agressivas devido à sua gravidade.


As limitações do tratamento atual


O tratamento padrão atual é a Terapia de Reposição Enzimática (ERT), baseada na infusão periódica da enzima recombinante rhGAA. Embora tenha ampliado significativamente a sobrevida dos pacientes, esse tratamento apresenta sérios desafios:

  • Requer infusões intravenosas regulares e contínuas ao longo da vida

  • Não consegue atingir o sistema nervoso central (SNC)

  • Pode desencadear respostas imunes contra a enzima administrada, reduzindo sua eficácia

Nova proposta: terapia gênica com AAV9


O estudo publicado no NEJM avaliou uma abordagem alternativa com terapia gênica mediada por vetor viral AAV9. Nessa estratégia, uma cópia funcional do gene GAA é inserida em um vetor adeno-associado (AAV9) e administrada por via intravenosa.

O AAV9 foi escolhido por sua capacidade de transduzir eficientemente tecidos musculares e atravessar a barreira hematoencefálica, alcançando também o SNC , uma vantagem crucial em comparação à ERT.

Resultados do estudo


Quatro pacientes pediátricos com forma infantil da Doença de Pompe foram tratados com uma única infusão da terapia gênica. Após o acompanhamento, os resultados foram animadores:

  • Produção sustentada da enzima GAA endógena

  • Melhora na função cardíaca

  • Avanços no desenvolvimento motor

  • Ausência de resposta imune adversa significativa


Apesar do número limitado de participantes, os dados indicam potencial terapêutico transformador, com possibilidade de beneficiar o sistema nervoso central , um dos principais desafios clínicos até hoje.


Mas é preciso cautela: houve um óbito


Infelizmente, uma das crianças tratadas faleceu cerca de 11 semanas após a administração da terapia gênica. A causa da morte, segundo os autores, foi considerada provavelmente relacionada à progressão natural da doença, e não diretamente atribuída ao vetor AAV9 ou ao tratamento em si.


No entanto, esse evento reforça a necessidade de acompanhamento rigoroso, testes clínicos controlados e transparência científica, especialmente ao se tratar de terapias inovadoras aplicadas a pacientes pediátricos com doenças graves.

Conclusões e perspectivas


Apesar do óbito, os resultados preliminares são encorajadores e posicionam a terapia gênica como uma possível abordagem mais duradoura e eficaz para tratar a forma infantil da Doença de Pompe. A capacidade do vetor AAV9 de atravessar a barreira hematoencefálica amplia o potencial terapêutico, algo que a ERT ainda não consegue alcançar.

Este é um passo importante na evolução do tratamento das doenças lisossômicas de depósito, mas ainda são necessários estudos com maior número de pacientes e acompanhamento de longo prazo para comprovar a segurança e a eficácia dessa abordagem.


📚 Referência completa: AAV9-Mediated Gene Therapy for Infantile-Onset Pompe’s Disease.The New England Journal of Medicine, 26 de junho de 2025.



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AAV9-Mediated Gene Therapy for Infantile-Onset Pompe’s Disease.The New England Journal of Medicine, 26 de junho de 2025.
AAV9-Mediated Gene Therapy for Infantile-Onset Pompe’s Disease.The New England Journal of Medicine, 26 de junho de 2025.

 
 
 

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